quinta-feira, 30 de outubro de 2008

. O que eu sei de mim .



PERDOANDO DEUS
Clarice Lispector

"[...] Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de "mundo" esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que "Deus" é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe. "
.
Acho que é o texto que eu mais gosto da Clarice, talvez porque eu me identifique muito com a pessoa briguenta da história. Culpar Deus por uma culpa minha é realmente fácil, não há como saber o porque tenho essa mania, ou melhor, porque temos essa mania...
Bom, mudando um pouco de assunto, porque esse é realmente sério e profundo, e hoje eu estou pra ser superficial, livre e idiota. Pessoas felizes não tem preocupação com nada que não seja o agora, não sei porque não entendem quando eu digo que quero ser feliz somente por um tempo...
Hoje eu to pra ser minha, eu quero ver tevê o dia todo e acabar com os meus neorônios, eu quero ouvir música alta e perder parte da audição (eu quero mesmo, afinal, o que há de tão importante pra se ouvir que não possa ser entendido pela metade?), hoje eu queria dançar, mas já que não vai dar, eu vou ficar no horizontal mesmo.
Mudando de assunto de novo, (porque eu não consigo, eu pulo de assunto pra assunto e tudo vira confusão até pra mim mesma) eu quero falar de relacionamento, eu quero dizer que não quero saber de relacionamentos. De nenhum deles. Mentira, eu quero saber das amizades, mas não quero ter que tomar decisões sérias por elas ("O problema de todas as amizades é que os outros esperam que a gente se envolva nos assuntos alheios, que tomemos partido nas questões triviais ou importantes. Se a gente não tiver cuidado se esgota como uma bolsa liberalmente aberta, esvaziada e deixada de lado." - A Filha do Silêncio), ah, citação do meu livro preferido! Bom, mas voltando, não quero saber de me entrelaçar em ninguém nem em nada. No momento eu sou folha seca no outono, entende? Eu preciso viajar..
Talvez eu vá para a praia, espairecer um pouco. Vou te convidar pra ir comigo, porque pouco tempo é muito tempo sem você. É você! Você sabe que é você.
Talvez eu vá, mas agora eu ainda vou ficar na horizontal, culpando alguém pelas coisas que não fiz, culpando Ele talvez.. mas acho que não mais.
Beijo!

Nenhum comentário: